terça-feira, 26 de outubro de 2010

metásteses ordinárias

eu já deixei escapar muitas pessoas na vida. umas o tempo apagou e gastou, outras preferi ser eu a extinguir . mas perdi-te a ti. demasiado cedo, demasiado tarde. talvez nunca te tenha perdido no sentido literal, porque nunca me pertenceste. mas, o meu orgulho, a minha esperança insensata.. seja o que for; leva-me a acreditar que nós somos donos de toda a gente. mesmo que leve apenas a eternidade de um suspiro, todas as pessoas nos pertencem uma vez. todas as almas se tocam, se completam e se mudam.. e tu tocaste-me . moveste-me. mudaste-me. fizeste-me ser mais, fizeste-me ser menos. foste mais do que eu queria, foste menos do que eu esperava. mas se me soubeste completar, esse espaço não vai nem pode alguma vez ficar vazio e frio. desprovido da vida que enchi com o mais singular e irresoluto pormenor, com a mais peculiar insanidade . eu nunca vou esquecer os sorrisos das tuas promessas e os toques das tuas sentenças. nunca. porque se as nossas almas se encontraram e se fundiram nesse segundo, encontraram-se e fundiram-se porque sim. erro de lógica, certeza do coração. e tu és a pessoa que não vou esquecer, porque jamais quererei fazê-lo. e mesmo que no futuro te tornes apenas num fantasma do passado que desistiu de me assombrar, serás sempre o que foi melhor para mim; o que eu quis que fosse melhor. e a Terra vai rodar em torno do Sol , mais uma e outra vez. e a minha alma vai ser tocada e pisada por outros, uma e outra vez. esse é o ciclo a que o amor se resignou e a ele eu me resignarei também . apenas lamento que o Mundo nos faça perder a cada instante. que um dia vá perder quem mais estimo e preciso, tal como te perdi a ti . que um dia me vá perder a mim própria e a razão seja escassa e pouco credível. mas sobre isso tenho algo a dizer, as tuas memórias foram um caminho que escolhi percorrer e espero nunca escolher apagar. não morreste, apenas escolheste adormecer.
assim, eternizo-te

terça-feira, 12 de outubro de 2010

a feliz incerteza

"The reason it hurts so much to separate is because our souls are connected."
— N.S

já não consigo acreditar em ti, em nós. deixei de conseguir ver lágrimas escondidas no teu sorriso e nunca foi difícil. tocar o teu coração petrificado com palavras. percorrer os teus cabelos com juras caladas. prender-me no teu olhar e sentir a tua brisa cálida a desvendar tudo o que amarrava no meu sigilo. passar as noites quentes de um Verão amargo, de olhos fechados, embalada pelas tuas sentenças. sentir o sangue a borbulhar de um pouco de nada.
nunca me custaram os teus pontapés secos, os teus tiros de balas incertas. nunca te custou o meu amor irreverente, com pouca coerência ou lógica. ou as rugas da minha tez, marcadas por um âmago incompleto. nunca te custou este monstro mal-amado que nos empurrava, com mãos educadas, contra mundos diferentes. ou a falta de alma que marcava as tuas indecisões e escolhas.
e nunca custará. nunca será uma tarefa árdua; nem para mim, nem para ti. nunca seremos perfeitos, as nossas roupas nunca irão combinar e eu nunca deixarei de me pôr na ponta dos meus pés para te conseguir olhar nos olhos.
 tu serás sempre a criança que me fez cair, e eu quem não soubeste apanhar.