terça-feira, 10 de abril de 2012

somos

somos todos fragmentos estilhaçados, desesperados para nos encaixarmos na angústia ou felicidade de outros âmagos atarantados como nós.
vivemos em simbioses incertas, competindo como monstros insaciáveis; famintos de um tudo que se revela em nada ou quase nada.
falamos em controlo, razão e outros vocábulos que pretendem minimizar as nossas ânsias enquanto, na inocente ironia, os nossos olhos giram como relógios adiantados que voltam sempre ao mesmo lugar.
damos as mãos como quem entrelaça a alma, como quem une o que mais incorpóreo tem. falamos, travando o que realmente queriamos falar: enchendo o mundo de palavras soltas e perdidas, que gritam todo o amor e todo o ódio que já existiu... mas nunca se viu.
fingimos que nos abraços não nos fundimos. que aqueles segundos não se podiam estender eternamente até os nossos corações desistirem de ser trapezistas da vida... e continuaríamos presos. deixamos a porta do nosso espírito aberta, com a chave perdida na louca poesia de outrora... e os outros pedaços de outros, que em nós se foram apaziguando, fogem, caem, extinguem-se. escapam-nos entre os dedos, como água cristalina. e nós juramos com todo o fervor no sangue que fomos roubados, que essa porta foi arrombada e fechamo-la para sempre.
depois dizemos ser sós, pobres e tristes. triste é a nossa ignorante inconsciência.