sábado, 28 de agosto de 2010

traços e pedaços de nós

passámos horas em irresolutas permutas de promessas, umas em gritos, outras emudecidas. foste apto de permanecer neste lugar em que evoco existência, dar pujança ao ânimo que era um nada alienado de mutilações. só tu arranjaste aptidão para me contar que as alvoradas sujas e a lua inquieta não se receiam. que não devo insistir em amarfanhar utopias apenas porque não se desencaracolaram. tu és, desde o momento em que o meu coração emboto e demente te adivinhou, o semideus do tempo sossegado, o herói do meu capricho; assim que aferrolho os olhos em nada. explicaste que existem troféus que somente nos pertencem se forem independentes. livres com um pássaro, livres como tu.
eu implorei-te melancolias e facultaste-me um éden de ti, que amparas sob a tua tez indecisa e faz de ti o meu espaço. sei precisamente o ensejo em que soube que irias alterar a minha vida. sei meticulosamente o momento em que te estremeci. sei cautelosamente o momento em que senti a tua carência e sei que desde esse pulsar intoxicado nunca deixei de sofrer o teu suspiro sanguíneo no arrepio que valsa pelos traços e pedaços da lua, de nós.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

afinal

é uma fraqueza mais escarpada e sedenta, que palmilha os meus esconsos mais íntimos, sugando o sangue que já circula de forma mais morosa e anti-racional por genuína renúncia de mim. sim, desisti de mim, do que há em mim. e toquei o fundo trémulo, num salto pouco calculado, pelo que em mim criaste – este bem-querer insensato e lacerado. sinto-me esvaziada, desproporcionada de intuição como se, para além da minha alma, tivesses também extorquido, após eu facultar esse furto ordinário e egoísta,  o meu coração. mas, apesar desse frio apagado me humilhar os olhos e deslustrar as linguagens, não posso jurar querer o meu centro vital de volta. quando me desenraízas a pele e nela teces os teus jogos, com pontadas lentas e calculadas, sinto a tua essência demente a incendiar-me os pulmões; e eu gosto. de ter etiquetas do teu altruísmo, nódoas da tua voz… um pouco de ti, em mim.
já reparas-te como o mar e a areia se assimilam a nós? tu és possante e ninguém te controla ou detém e eu sou efeminada e insisto em me aprisionar a ti. o teu magnetismo asinino, e a areia esmagada e deixada para trás. depois vens e deixas-me experimentar o teu salgado… mas nem permites que ele faça efeito – foges e só voltas quando queres, como queres e dás sempre o mesmo. mas, apesar do selvagem dos teus acenos, a tua toxicidade transformou-se num antídoto ao meu aniquilamento. enquanto te afronto, enquanto demando a tua sinuosidade melíflua, … procuro algo com sentido, com uma lógica escassa mas suficiente para mim. e isso mantém-me viva.
afinal conseguimos viver sem coração, vês?

domingo, 1 de agosto de 2010

a absoluta

Não te consideres superno, amor, fui eu que te deixei ir...
fui eu que te dispensei. que te consagrei esta partida vaga, porque renunciei ceder às tuas colocações caprichadas, ingénuas e medíocres. e sabes disso, melhor do que os episódios que emudeceram os meus gritos, melhor do que os toques que se consumiram no maléfico dos teus acenos. por isso não te galanteies com a tua insensibilidade apática, nem me ataques com esta indiferença torturante – foste e sempre serás quem primeiro por mim procurou.