domingo, 27 de junho de 2010

tempo

- o que não nos mata, torna-nos mais fortes.
- então o que não nos torna mais fortes, mata-nos?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

crença

só suplicava um momento. um avarento segundo em que dominasse as tuas mãos, com os dedos emaranhados e as unhas cravadas em ti. um instante em que pudesse escutar as tuas palavras atarantadas a percorrer a minha epiderme e a engrandecer a violência dos meus batimentos cardíacos. será desejar muito? um pouco de ti?
ainda recordo o entrance de mente que se proporcionou quando te acorrentaste no meu corpo. de quando me atracaste nas tuas pernas e me hipnotizaste com os teus olhos inclinados.
alimenta o meu fôlego, compromete-me o anónimo, faculta-me o ansiado. mostra-me o abismo do teu ser, trava-me estes prantos de remota nostalgia. prende-me no infinito e devora-me. disseca-me a alma, se quiseres. mas não te expulses de mim. não me negues quando te alcanço. não permitas mais jogos frenéticos. não prolongues os compassos de tensão. extingue este monstro que em mim desenvolveste. este assombro ímpassivel que descansa nas entranhas do teu bem-querer.
mostra-me que estava certa quando acreditei nas tuas filosofias sarcásticas e no ardente que fundia os nossos espíritos. quando te promulguei o meu sol da meia-noite. quando te estremeci. quando te amei.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

âmago

e, mergulhada nos seus prantos melancólicos, correu para o baloiço ferrugento que rangia ao sabor do vento. impulsionou-o e depois deixou que ele abrandasse levemente por si. quando este terminou a sua viagem, ela assentou os pés firmemente na relva seca e olhou os dedos gretados. as feridas da sua alma incerta. 
gritou por ele, sacudiu o espírito, proclamou-o. mas o silêncio ecoou sem recordação ou vestígio. os seus olhos cobertos de lágrimas alcançaram o reflexo que a lua impunha ao lago sórdido e ela rastejou até ele. com o desejo ardente de encontrar, por entre a claridade astral, uma ruína do que entre os seus dedos escapou. atingiu a água numa respiração anelante, mergulhada num lamento melancólico e doce, e deixou o frio da insensibilidade palmilhar o seu âmago. mentiu ao luar, derreteu a consciência, matou a espera interminável.
por fim, enquanto se sufocava na sua privação, reconheceu a essência dele. emergiu, num ápice insano, na realidade suave e apaixonada que ansiava impetuosamente. descansou no seu colo e enterrou o rosto nos seus cabelos. inalou-o, demente e suja. os olhares pincelaram-se. engolidos no melífluo que os delineava. fizeram promessas mudas e ele rasgou finalmente a máscara de cera que o protegia e contornava. conseguiu ler-lhe as entre-linhas e guardou no seu alento o oculto e o subentendido. devoraram-se esfomeados, pertenceram-se numa força insuperável. entrelaçaram as almas e cravaram juras atarantadas. eternizaram-se. posso rasgar a tua?