domingo, 30 de maio de 2010

tortura

centímetros. e eu sinto a tua essência atarantada e diabólica. reduzo escrupulosamente, evocando as matemáticas mais minuciosas, os centímetros a milímetros e consigo sentir a tua brisa cálida a degolar-me os sentidos. envolves a tua mão firme na minha cintura e eu impulsiono-me até que os nossos corpos se fundam. nunca estivemos tão perto e eu sinto o meu coração a dilacerar-me a garganta. a devorar-me a sanidade e a moderação. cravo as minhas unhas nas tuas costas, como se se te arrancasse um pedaço de carne te tornasses meu. mais do que já eras. te tornasse imortal nos meus braços. proclamo o teu nome usado, num suspiro sôfrego, e empurras-me contra a parede. asfixias-me no compasso de espera e eu afogo-me nas tuas sentenças mudas. mutiladas. apagadas. reduzes a tua eminência e fixas os teus dentes nos meus lábios. afastas a magnificência do teu ser e os teus olhos encontram os meus, jurando amor corrosivo e implorando redenção. sabes que chegaste demasiado tarde. sei que chegaste demasiado tarde. mas procuro, enquanto as lágrimas me lambem a presença, o teu beijo. esperando por mais. mais frequentes. mais nossos. e arrancas-me cabelos, passeias no meu corpo. reduzes-me a pó. dás-me tudo o que quis. o meu sangue congela, os meus passos trocam-se. fico embriagada de ti. palpitas nos meus contornos e os meus músculos prendem-se em caimbrãs desfiguradas. mas não me importo que me enfeitices assim, que me devores a alma e nos tornes eternos.
e depois de te desenhar em mim, desperto na realidade crua. foi apenas mais um sonho. nunca serás meu.

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