segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

mil quatrocentos e sessenta dias


já vivemos dez meses desde a última vez que te escrevi.
parece que perdi a habilidade de juntar as palavras e as conciliar de forma a expelirem tudo o que sentia por ti. na realidade, o dilema será mesmo o meu sentir. é um oco intimidante que apenas por vezes se cobre de latejos e impulsos incertos. agora, quando reconheço a distância que separa os nossos corações, já não lamento que o meu futuro não conte com a tua presença.
sei que jamais experimentarei o calor dos teus braços ou ouvirei a tua voz só porque sim, mas já não dói. algo roubou o lugar da tristeza e as memórias já não me deixam tonta. nunca pensei que fosse possível ficares latente e unicamente seres revivido em introspecções ou causalidades. é estranho saber que perdemos parte de nós, mas não sofremos com a sua ausência. talvez seja um mecanismo de defesa por sabermos que jamais alguém conseguirá preencher esse espaço, que jamais permitiremos que alguém enrole o nosso âmago e faça dele objecto da sua vontade.  outras pessoas irão preenchendo outros espaços e recantos, deixando a sua marca impregnada em mim. mas o teu permanecerá sempre desabitado e um dia optarei por me esquecer que ele existe. 
é tormentoso reler o que em tempos redigi. absolutamente desnorteante admitir que me entreguei daquela forma. admitir que descansei nas tuas mãos por tanto tempo. que me resumi a nada numa espera interminável e deixei que as tuas palavras me lacerassem como facas afiadas. era tão doida, tão incansável, tão insana,… tão tua. e tu eras o sol impetuoso no qual arrisquei tocar tantas vezes, mesmo sabendo que me irias queimar. eras eloquente, taciturno, impulsivo… mas nunca meu. tu nunca pertencerás a alguém, mas deterás quem a tua vontade escolher. e sei que sabes que assim nunca serás nem farás ninguém inteiramente feliz. e eu mereço sê-lo.
nunca me tinha sentido tão viva até ao momento em que me desprendi de ti. não posso negar que me tornaste mais débil, indiferente e fria. mas também aprendi que, mesmo quando alguém te calcou e esmiuçou, existe sempre outro alguém que está na tua vida porque te vai fazer feliz. a vida pode mesmo ser um ciclo vicioso. as pessoas entram nela durante algum tempo mas depois abandonam-na porque a felicidade, como água fugaz, tenta escapar por entre os nossos dedos e mantê-la exige esforço. algumas das pessoas que arriscam penetrar no teu ciclo, não temerão esse trabalho. sussurrarão as palavras certas ao teu ouvido e os seus abraços far-te-ão sentir em casa. e se alguém negou o teu esforço no passado, estarás melhor preparado para saber quando tens perante ti alguém que merece que te entregues de novo. ensinaste-me que já não preciso de ter medo. essa entrega valerá a pena, pois essa pessoa unirá o seu esforço comigo e estarmos juntos vai ser tão simples. vamos estar exactamente como devemos estar.
já não te pertenço e tu já não me queimas. já não és o meu sol. és apenas memória de um passado doloroso que partiu e eventualmente dará lugar a algo melhor.
mil quatrocentos e sessenta dias depois, (penso que) esta é a última vez que te escrevo.

2 comentários:

  1. por vezes é preciso apenas abrir os olhos melhor para encontrarmos a felicidade

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  2. Brilhante, como sempre! Adorei, :)
    És uma pessoa magnífica, cheia de alma e isso transparece nas tuas palavras.. :)
    Tenho saudades tuas Dani, <3

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