quinta-feira, 6 de maio de 2010

narcótico simulado

não fomos mais que dois devaneados a escapar da solidão e da monotonia pestilenta. eu, psicótica, com falta de caráter e personalidade distorcida. tu, psicótico, resignado ao destino e escondido por detrás do nevoeiro incessante. tu, meu narcótico imperceptível que me matava em labaredas silenciosas, sem dó nem aviso prévio. eu, a falha que te cortava a pele e a determinação, que te murmurava o impossível, que te confessou que a pedra mais dura e impenetrável é a mais frágil e morta. mas se traçámos os trilhos mais íngremes, sobre telas escuras e densas, sentido o sopro vigoroso do perigo.. porque é que renascemos fúteis e sem amor próprio? porque é que queimámos as línguas e vendámos os olhos a uma realidade inevitável? suplico-te arrebatadamente, minha utopia amarga, meu gelo quente, não me esfaqueies mais delitos. perde toda a sanidade que te prepondera, desenfreia-te da moderação que te apodrece e rasga-me o corpo com as tuas mãos. podes até consumir-me sobre os lençóis mal feitos e encharcados em melancolias desfeitas. sei que vais somente descobrir o que o susto calou: a minha identidade, os meus recantos mais ínfimos, o meu sangue pejado de ti ... nada que não tenhas roubado sobre a minha vontade, nada que te seja incógnito. e podes guardar o meu coração, como um troféu, porque o meu domínio perdeu-se em ti. dá-me certezas que nada acontece sem uma razão.

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