sexta-feira, 21 de maio de 2010

homem-bomba

não te condeno pela tua escolha, nem te prendo entre grades possantes. nem mesmo pelo facto de teres descoberto a habilidade de me atirar imprudentemente, como um farrapo sujo e pecaminoso, até que alcançasse o chão que esmagámos lado a lado. desembaraçaste-te dos laços de mil nós esfarrapados, desmoronas-te os muros que construímos e encontras-te a alma que te alimenta melhor que eu. a cegueira deu lugar à consistência e vejo-me agora escravizada, pelo teu rumor de adeus, a arrancar do meu coração as vendas que enlaças-te quando eu era a enzima da tua alma negra. nunca me foi atingível tal oco emocional, tal vazio espiritual. sem ti, as minhas células não se oxigenam e vejo-me prisioneira da produção de ácidos corrosivos; um suicídio involuntário. e, enquanto entrelaças a língua na tua musa inescrutável, eu proclamo aos céus a cura para as feridas que deixaste em mim. nunca seremos mais do que duas almas perdidas, dois amantes corruptos. dois mortais que o tempo desagregou e aniquilou. e tu, o homem-bomba que sempre amei.

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