domingo, 16 de maio de 2010

marioneta

a tua alma já tinha percorrido a minha. o teu olhar feito malabarismo com o meu coração. rendi-me à podridão dos actos. passei a agir de forma quase autónoma. fiquei a tua marioneta. aquela que moldas com as tuas mãos verbalizadas. afinal, a maior loucura é amar, e eu fui louca enquanto quiseste. enquanto acendes-te a doença que me extinguia, enquanto o o teu veneno correu de forma mais insana. o latejar do coração duplicou a intensidade. acabaste com os moralismos simulados e dedicaste-te à frieza dos teus movimentos. e sabes que quando nos tornamos unânimes de vontade, quando nos desejamos de forma mútua, os pólos assemelham-se e somos arrastados para pontos divergentes. eu descansei no banco manipulado simetricamente ao que escolheste e o comboio arrancou de forma suave. observei o teu reflexo no vidro embaciado durante toda aquela viagem eterna. observei-te de olhos postos em mim e observei o desvio deles quando com os meus se encontravam. sais-te de forma apressada, penetrado nas melodias que te completavam o alento, e o vapor de água que emanavas misturava-se com o ar gélido, desenhando uma nuvem nostálgica. as tuas linhas escondiam-se sobre a camisa azul escura e anestesiavam-me a alma. os teus passos longos aproximavam-se da pressa com que os meus se produziam e procuravas a minha existência por trás dos teus ombros. o desprendimento correu-te as veias e quando te alcançou o consciente, empurraste-me. detive-me e fugi do teu horizonte, tornei-me inalterável à tua vontade. fomos prisioneiros do que dissipa a nossa união, da energia que cumula quando a nossa dependência é mútua.
pelo toque dos teus suspiros,
enrolei os cordéis e engonços com que me dominas e rastejei petrificada em busca da tua essência. sofremos de estrabismo temporário e as nossas pupilas desviavam-se em busca de um contacto arrogante.
olhavas-me e sorrias. eu aproximava-me, o teu espírito contemplava-se de revolta e o teu apocalipse sentimental fazia-te gritar ódios falsos. eu escondia-me do teu domínio e tu voltavas sempre, disposto a mergulhar na doçura com que me embalavas nos capítulos pacíficos. procuraste-me infinitamente mas não me encontraste entregue a ti. tocaste-me satiricamente, pronuncias-te o meu nome com sílabas fulminantes, teceste os meus desejos temporários e até te apagaste para que te procurasse. foi a minha proximidade que te metamorfoseou antes das doze badaladas? porque é que foste meu e me senti ateia ás tuas promessas?
demos inicio ao nosso compasso frenético como dois ímanes irresolutos. repulsa, atracção. encanto, ódio. toquei-te, expulsaste-me. desisti, possuíste-me em enlaces imortais. prendeste-me entre as tuas pernas impudicamente, sacudindo-me e eu rejeitei-te . percorri as tuas mãos e tu soltaste-as. 

cansei-me do teu jogo, reduzi-me à monotonia. regressas-te esporadicamente mas a minha transparência foi-te evidente. sempre me soubeste decifrar; foi apenas um tudo cheio de nada, um vazio volumoso.
e quando, sobre a nossa lua inquietante, descansamos os pensamentos, concretizamos o alento com extremos. nos escassos metros que nos separavam, entrelaçamos as almas que caíram num sono extravagante de ofensas; foi essa a forma que achamos de nos eternizarmos. é assim que se arremessam as pequenas marionetas.

2 comentários:

  1. BRUTAL!!!!

    se houvesse olheiros para escritores isso e q era!!!

    esta genial tu és um verdadeiro prodígio...precisas de ser descoberta rapariga...

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  2. Disse que vinha, aqui estou :)
    Como sabes, as palavras não são o meu forte e também não sei muito bem o que dizer, mas sempre ouvi dizer o que conta é a intenção, por isso aqui vai:

    Conhecemo-nos à pouco tempo, embora de vista talvez à relativamente muito, depois do tal dia de nos conhecer-mos fiquei com vontade de saber mais.
    Isso aconteceu, depois de umas quantas conversas, de simbolos de extintores perversos e máquinas com produtos a 1€, etc, aqui estou, completamente surpreso, ou até abismado (à falta de palavra que melhor defina o que quero) porque eu li tudo mesmo, viciei-me nos textos até os ler todos, tudo o que escreves-te eu li, e de todos, o que ainda me desperta curiosidade é este. Este, porque foi o que não percebi logo, é o (como já te disse mais complexo e, pelo que me pareceu, com mais sentimento).
    Agora conheço-te um pouco melhor, e gosto disso, gosto de quem tu és :)
    Não sei mais o que dizer, e também acho que já me alonguei um pouco, como não tenho esse dom de escrever vou-me ficar por aqui.

    Agora sorri :)
    Um sorriso com letra grande, um Sorriso Puro.
    Beijo.

    Tiago ©

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